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quarta-feira, 30 de abril de 2008

MTV e a reprodução dos estereótipos


A comunicação é tornar comum. A comunicação determina a passagem do individual ao coletivo, tornando-se a condição de toda vida social. É, como afirma Cybeli Moraes, “um ato de reconhecimento, de retomada, de criação e recriação de linguagens e simbolismos vigentes. Comunicar é ação e elemento inerente à espécie humana que, através de sua utilização, assegura os processos de interação e interdependência da sociedade. A comunicação é definida como um intercâmbio simbólico mediado através da participação que produz mudanças sociais e culturais. É comunicando-se que as gerações acumulam bens simbólicos e transmitem seus conhecimentos através do processo informativo”.


Entretanto, se fizermos considerações a respeito dos meios de comunicação de massa (ou mass media), logo veremos que eles não cumprem esse papel de comunicação, no sentido de promover a socialização, a comunicação para a troca de mensagens significativas e para o aperfeiçoamento da democratização dos espaços públicos. Antes, promovem o conformismo e os estereótipos, manipulam a massa amorfa, legitimando a ordem estabelecida e massificada.
Uma dessas emissoras, a MTV, surgida no seu começo como proposta diferente para o publico jovem, apostando na música como mudança de comportamento। O publico jovem sentia-se atraído pela emissora, graças a exibição constante de imagens e clipes musicais de diversos gêneros, principalmente com referencia a geração rebelde – a geração 60/70 - do Rock, contestadora do sistema, dos costumes, da política e dos valores do mundo ocidental, enfim, era a contracultura.


Mas essa proposta nunca aconteceu de fato. A MTV era um modelo como outro qualquer de veiculo de cultura de massa, só que com roupagem diferente, para parecer diferente.
Em um de seus programas inúteis, um narrador se esnoba e gaba-se em fazer comentários depreciativos aos ícones daquela geração contestadora, que vai de Led Zeppelin, passando Paul MacCartney até The Doors।


Como afirma Cybeli Moraes “na emissora não cabe uma unidade visual, a norma é a sobreposição, a transformação contínua de uma imagem em outra”, de maneira que o telespectador fica encantado pela profusão de imagens, mas que não gera nenhum sentido ou direção. De acordo com Teixeira Coelho (Moderno pós moderno, p. 166):
A imagem na MTV está em constante liquefação e
reagrupamento. A MTV não lida mais com a imagem, ou com o
conceito tradicional de imagem, mas com algo que pode ser
chamado de imagem molecular (...) seu espírito é a turbulência
que rompe a linha entre o fluído e o sólido, formando
agrupamentos de formatos e densidade impossíveis de se prever
antes do exato instante em que ocorrem (1981, p. 166).

Essa “liquefação” de imagens deixa a emissora na posição de não assumir nenhum “compromisso com a atualidade, com o presente, com o real। Ela não tem nada a ver com o que se passa, não se interessa” pelo desdobramento no confronto com a realidade.


Como afirma Ludmila Gama, “a MTV tomou como meta esta pretensão de atingir aqueles que sempre têm alguma coisa a reclamar sobre o mundo। E o objetivo é esse mesmo: criticar. Jogar ovos e tomates pelo valor da crítica sem nenhum horizonte de mudança. Essa é uma grande declaração de morte da modernidade. A pós-modernidade também trouxe um caos embutido em tempos difíceis. Somos convencidos, cada vez mais, que a realidade é intratável e por isso, qualquer teoria que tente explicar o mundo e perceba nele uma outra possibilidade - leia-se marxismo - é mal vista. É necessário fabricar uma ideologia paralisante para que a realidade na ordem do dia continue sendo da ordem do pra sempre. E a MTV faz isso, com sua radicalidade” forjante e amorfa.


Como meio de comunicação de massa, o que interessa é uma agenda de temas para discussão cotidiana espiralada, onde cada besteirol falado conduz o espectador ao silêncio sobre os assuntos falados। As mensagens vazias penetram a consciência do individuo como uma agulha hipodérmica penetra a pele, deixando o espectador atomizado submetido a totalidade desse circo midiatizado, na qual ele tende a ser dissolvido da sua experiência subjetiva.


Suas “matérias não mostram uma preocupação com o momento do acontecimento, os fatos históricos, a intensidade, clareza, proximidade, surpresa, continuidade e com os valores socioculturais envolvidos. Nada disso importa, nem o fato dos artistas enfocados na matéria não serem muito conhecidos do público geral. O que importa é o ângulo inusitado”. Quanto mais supérfluo, simplista e grosseiro melhor.


Texto que publiquei no Jornal Chega São Paulo


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