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sábado, 13 de setembro de 2014

A política e a mobilização dos piores afetos negativos



Para os gregos antigos, que fizeram as primeiras experiências democráticas, que imaginaram as normatizações sociais reconhecidas como criação humana e do apreço à estilística, viver em sociedade significava a valorização da comunidade democrática, sendo do interesse de todos que tudo girava no campo da dimensão coletiva. Ser um cidadão da Polis significava, antes de mais nada, o direito à palavra, isto é, a expressar a sua opinião para o equilíbrio do exercício do poder. Isso fazia da política o campo inseparável da ética.

Hoje, se pensarmos o Brasil, que é o que nos interessa nesse pequeno texto, devemos nos perguntar: porque a política nossa de cada dia, essa que é feita pelos profissionais da área, por setores da imprensa e por membros de alguns partidos, está sendo sempre mobilizada pelos piores afetos possíveis? Qual é, pois, a natureza da raiva do público? Desde Espinosa, que melhor pensou a questão e a causa, afirmava que a raiva, esse afeto negativo, é perniciosa para nossa liberdade e tem o poder de diminuir a potência de agir. Estudos na área de psicologia revelam que, num nível básico, as pessoas imitam inconscientemente as expressões de um interlocutor. O efeito desse arremedo vem acompanhado de um forte contingente emocional projetado por um líder, que descarrega uma emoção forte, como a raiva, e toda a sua frequência é absorvida pelo grupo, ou grupos de pessoas, que passam a responder a partir dessa disposição emotiva negativa.

Assim, o discurso inflamado de homens públicos pode desencadear a raiva oculta entre os eleitores, que está sempre prestes a se manifestar em um líder irascível, de temperamento agastado ou com uma ideologia de exclusão que ganha então um corpo próprio e, sem controle, deixa irromper o bárbaro que ainda se alberga no ser humano.

Políticos e lideranças têm um papel essencial na lógica da imposição discursiva. Os atores sociais com um melhor preparo emotivo também são aqueles que vão instaurar os discursos a interpretarem a realidade e regerem o espaço social. Suas falas e exigências revelam um tom conciliador, procurando manter os afetos sob controle [Mathias].

O homem precisa conhecer melhor aquilo que o escraviza: o medo da liberdade, a ignorância, suas ilusões, isso tudo leva a considerar se o homem é determinado por suas circunstâncias ou forças que não pode controlar ou é livre para escolher ou optar. Espinosa afirma que a impotência do homem condicionado pelas afecções convertia-o em escravo. Sua concepção é a da conquista da liberdade pela razão e vontade, evitando distrair-se de diversas maneiras por causas externas, procurando conhecer-se essencialmente a si mesmo. É o retorno ao exercício da reflexão socrática: conhece-te a ti mesmo, para que venha saber o que ignora.

O homem é o único ser que faz perguntas a si mesmo e se sente problema. Essa atividade reflexiva dialogal consigo mesmo se faz objeto, o que permite assumir uma atitude critica e responsável pelos seus atos e sentimentos.  


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