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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O fim do casamento coincide com o fim do mundo encantado





É muito comum se vê e ouvir falar de casais que se separam com poucos anos de união. Há casamento que não dura um ano. Mas há aqueles que duram somente alguns meses. Seja como for, não havia nada de substancial nessas relações.

Afinal, por que os casamentos não se sustentam mais? O que está por trás dessa avalanche de separações?

Na nossa sociedade pós-moderna, marcada pelo desencantamento do mundo, pela fragmentação das consciências individuais, pelas incertezas e pela assimilação dos indivíduos ao sistema social dominante, desagregou a soma de uma série de elementos sociais que faziam parte do ideário de coletivização da vida formada a partir unidade da família nuclear.

Hoje, com a passagem de uma fase sólida dessa ideologia moderna para a fase fluida, já que não tem como manter-se por muito tempo, esta se desloca sempre na direção da fluidez e rapidez, desagregando as coisas que supostamente pareciam preencher o nosso desejo. Entretanto, se a realidade é líquida, fugaz, no instante mesmo em que realiza esse preenchimento já não serve mais, está obsoleto.

Uma das formas mais fluidas que caracterizam a modernidade líquida, ou seja, o casamento, encontra-se agora em total instabilidade. Seus ritos, tão marcadamente presentes no ideário da união conjugal, vão sendo paulatinamente preenchidos pelas relações “descompromissadas”, termo que se usa hoje para não assumir uma união duradoura, já que ela não virá mesmo, uma vez que a contingência e a instabilidade delineiam o anúncio de um outro período bem característico da sociedade pós-moderna: a incerteza.

Os casamentos, dentro dessa perspectiva, continuarão existido, mas não formarão uma comunhão matrimonial. Em si, diga-se, de passagem, a certidão de casamento não constitui um casamento. Faltam os elementos essenciais há muito tempo extintos da garantia da sua existência plena.

Os esponsais como expressão do amor, com o surgimento desse revés, assumiu forma fantasmagórica como modalidade de sociabilidade que acontece agora somente como narcisismo. O deslocamento de sentido do tempo, o medo ao envelhecimento e à morte, o fascínio pela celebridade, o fator econômico na escolha dos pares, a negação feroz da dependência ao outro.

Apartada da energia do amor, a energia sexual – que é a energia biológica construtora do aparelho psíquico que constitui a estrutura sensorial e de pensamento humano, agora declina e degrada-se, como assinala a psicologia das profundezas, na “excitação do vago”. Enfim, tudo converge para essa liquidez e suas angústias.






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