Taiti
– luxuriantes ilhas verdes num mar de anil. Pontudos picos vulcânicos rasgando
o azul do céu. A espuma de uma queda d’água pendendo de sua encosta de jade.
Recifes de corais, repletos de uma vida colorida exótica. Pôr do sol multicor
tinge o horizonte naquele céu tropical cheio de nuvens. Ondas verde-azuladas,
desenrolando numa praia de areia branca ou chocando-se contra a pedra de lava
na praia imersa numa noite púrpura. O rico solo vulcânico. As verdejantes
florestas tropicais, cheias de árvores com flores aromáticas e arbustos de
numerosas tonalidades brilhantes.
Os
sons de Taiti – as pancadas de rebentação, uma queda d’água na floresta
tropical, os constantes ventos alísios soprando as palmeiras, o cantor místico
do povo taitiano.
Os
taitianos – nascidos de um mar inquieto e de uma terra colorida – um povo
bonito e sensual que acredita que as verdadeiras finalidades da vida é a busca
da felicidade nesta antiga terra. Um povo ardente e ousado, numa terra
luxuriante.
Paris,
1885. O corretor de valores, Paul Gauguin, acabara de perder tudo no recente
colapso da bolsa de Paris. E seu casamento também desmoronara e sua mulher e
seus filhos haviam partido para junto do pai dela na Dinamarca. Aos trinta e
sete anos, desempregado e sem família, Gauguin podia então se dedicar ao seu
verdadeiro amor na vida: “pintar todos os dias”. Acontece que Gauguin aspirava
ser um pintor. Anos antes ele começara a pintar como um passatempo. Sua
juventude como um marinheiro lhe mostrara outras terras, outras caras e cenas
tropicais coloridas, que sem dúvida desencadearam seu interesse pó luz e cor.
Ele ansiava por expressar na tela o que sentia dentro de si mesmo. Em 1876, um
dos seus primeiros quadros, “ Paisagem em Viroflay “, foi recebido no salão.
Animado por esse sucesso e fascinado com o sempre variado jogo de luz solar nos
objetos, Gauguin foi inicialmente atraído pelo Impressionismo – a escola de
pintura de pintura interessada na representação da luz e seus efeitos na
paisagem. No Impressionismo, pinceladas curtas de numerosas cores intensas são
usadas para representar ou expressar o jogo da luz sobre os objetos. Muito
serio em sua devoção e entusiasmado com os conceitos dos Impressionistas,
Gauguin estudou com os pintores dessa escola, Camille Pissarro e Paul Cezanne.
Em 1880, foi convidado para expor seus quadros numa famosa mostra
Impressionista.
Assim,
quando perdeu seu emprego, sua mulher e seus filhos, Gauguin se atirou
febrilmente ao seu trabalho de pintura, determinado a expressar seus apaixonados
sentimentos sobre a cor e a luz. Sozinho em Paris, sem dinheiro e sem amigos
(seus sócios o haviam abandonado), ele continuou a se dedicar a sua pintura,
aproximando cada vez mais a sua obra daquilo que sentia interiormente.
Durante
seu período mais difícil (fins da década de 1880/90), ele foi influenciado
pelos pintores Georges Seurat e Paul Signac, excitados pelas idéias deles sobre
as possibilidades expressivas da cor. Foi também influenciado por Vicente van
Gogh, com quem estudou brevemente em Arles, em 1888.
Durante
esse período, Gauguin começou também a reavaliar seus valores e os valores do
mundo dos negócios a que estivera associado. Achou sufocantes os valores
materialísticos burgueses da classe média francesa e detestou o que sentiu como
a artificialidade da civilização européia (refletida, percebeu ele, em sua
própria arte). Gauguin ansiava por um retorno à natureza e a à verdade. Estas
idéias foram expressas em sua pintura. Afastando-se do Impressionismo, ele
preferiu expressar uma idéia em seus quadros, evocando um sentimento particular
no observador. Esse método conceitual de representação influenciaria a pintura
de Gauguin pelo resto de sua vida e, aliás, grande parte da arte do século XX.
Em 1891, buscando um novo ponto de partida e cansado de “tudo o
que era artificial e convencional”, Paul Gauguin deixou a civilização européia
e partiu para o Taiti.