No
Brasil, ao longo de toda a sua história, existe uma mentalidade que quer
continuar um tipo de privilegio que emperra todo processo para estabelecer uma
democracia real no país. Essa mentalidade, típica das elites, nunca deixou de
existir. Por meio de sua força econômica, de suas alianças heteróclitas, suas manobras para manter o privilégios e a total indiferença ao sofrimento dos milhões de esfarrapados, soma-se a um outro elemento que engendra um outro
mecanismo para imobilizar qualquer mudança social, ou seja, constrói-se “uma
estratégia da resignação”. Ela tem um efeito perverso, na medida que é uma
forma de abrandar e frenar qualquer iniciativa de alteração ou ideia de mudança
no quadro social e politico. Essa tentativa resulta na desqualificação radical
“da força produtora das ideias”, que possibilita que a politica venha a
constituir, não o lugar e o espaço da invenção das relações sociais, como
deveria ser, mas o espaço ritual de liturgias individualistas do credo liberal
conservador.
Felizmente,
porem, o cenário mundial (manifestações e a crise de 2008) e mesmo os avanços
da educação (mesmo que lento e necessitando de muito investimento), aliado aos
avanços tecnológicos têm contribuído para mudanças. A recente vinda do Papa
Francisco ao Brasil, diferente dos seus antecessores, que “colocavam a política
sob suspeita, alegando a eventual ideologização da fé”, trouxe um novo alento
aos jovens e adultos desestimulados. Diz ele que é “uma obrigação para o
cristão envolver-se na política, pois a política é uma das formas mais altas da
caridade”. Ou seja, a fé não impede que cada um seja cidadão. A politica, como
tem sido feito ao longo do tempo, principalmente no Brasil, é coisa de uns
poucos entendidos, responsáveis por guiar nossos destinos. Ora, isso só serviu
para continuação de um ciclo de desigualdades sociais ao longo dos tempos, além
da despolitização e na descrença nos representantes, que legislam muita mais em
seus interesses do que do povo, corrói e mina quaisquer avanços no sentido de
uma democracia real.
Rousseau
já havia creditado à politica o papel da soberania popular. Só a soberania
popular é soberania absoluta, perfeita e legitima. É na participação de todos
que se assenta a verdadeira liberdade. Deixar que decidam por nós é “renunciar
à liberdade” é “renunciar à qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e
até aos próprios deveres” diz Rousseau.