A política era de uma ordem
estética, tal como ele mesmo o disse em muitas ocasiões. “Política é a interação
entre as pessoas”, disse ele. Numa delas, um repórter lhe pergunta como ele
define suas atuações, e ele tem uma resposta emblemática: "somos políticos
eróticos".
R. How would you define your act?
J. Easy, Man. It’s not an act. It’s politics.
We are erotic politicians.
Jim está se referindo a
relação do ponto de vista do conceito grego das relações, que foi e continua
sendo o mais bem elaborado e o mais bonito. Ele se dá numa relação em que os indivíduos
não pautam suas relações do ponto de vista das dicotomias, ou seja, da mera
politização da vida entre os que são ora de direita e os que são de esquerda,
mas da perspectiva de EROS, PHILOS. Há muitos poemas de Jim com essa abordagem
da relação mediada pelo "erotismo", ou seja, por Eros.
Considero essa proposição de
Jim como de uma beleza e imaginação incríveis. Não houve ninguém dentro da
musica – seja Rock, Pop – que tenha nos proposto algo tão belo.
Freud nos falou que a civilização exerce um certo controle sobre a sexualidade,
mas é uma sexualidade como forma de satisfação imediata dos impulsos. Cada
cultura exerce um controle sobre a sexualidade e sobre a agressividade. As
pessoas não estão livres o tempo todo. Elas têm de abrir mão de seus impulsos
para enquadra-se nas normas coletivas. Acontece, porém, que essa adequação tem
um preço muito alto para o modelo de civilização que encontramos para esse,
digamos, arranjo existencial. Ou seja, isso não se faz sem que o vazio e o
mal-estar se propaguem em escala global (excetuando algumas comunidades
primitivas, talvez). É por isso que os poetas, os sensíveis, os místicos
inspirados têm nos revelado outras formas de viver, com-viver, que não é nada
convencional, padronizadas; elas são tidas como ameaça a estabilidade,
escândalo, imoral, etc. Mas Norman O.Brown, numa interpretação mais atual,
considera a sexualidade como base da vida psíquica e da vida de
relações, mas é a sexualidade entendida em sentido amplo, entendida como a
ligação, como uma ligação aos outras e uma ligação a nós mesmos e não se restringe
a uma sexualidade no sentido de sexo. Mas as dificuldades de estabelecer essas
diferenças são enormes.
Jim tentou responder isso em muitas ocasiões, mas não fora entendido. Claro,
propor uma mudança nesse nível, quando tudo já está ferreamente entranhado nas
normas, nas reações das pessoas, fruto da intensa necessidade de controle de
grupos, seja religioso, político, familiar. Todos trazem a essas normas
introjetadas e respondem de diferentes modos, sempre em prejuízo da convivência
saudável.
Para todos os efeitos, disse Jim Morrison, “pense em nós como políticos eróticos”.
Quem sabe a humanidade passe a viver – algum dia - como queria Jim Morrison e outros – “eroticamente”.
"Amar é o que precisamos" - disse ele em seu livro Últimos Escritos.