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sábado, 22 de agosto de 2009

Políticos eróticos e sentido em Jim Morrison



A política era de uma ordem estética, tal como ele mesmo o disse em muitas ocasiões. “Política é a interação entre as pessoas”, disse ele. Numa delas, um repórter lhe pergunta como ele define suas atuações, e ele tem uma resposta emblemática: "somos políticos eróticos".

R. How would you define your act?
J. Easy, Man. It’s not an act. It’s politics. We are erotic politicians.

Jim está se referindo a relação do ponto de vista do conceito grego das relações, que foi e continua sendo o mais bem elaborado e o mais bonito. Ele se dá numa relação em que os indivíduos não pautam suas relações do ponto de vista das dicotomias, ou seja, da mera politização da vida entre os que são ora de direita e os que são de esquerda, mas da perspectiva de EROS, PHILOS. Há muitos poemas de Jim com essa abordagem da relação mediada pelo "erotismo", ou seja, por Eros.

 Schiller imaginou a relação política entre as pessoas na perspectiva estética, parcialmente desenvolvido no livro do Marcuse “Eros e Civilização”. Jim com certeza lera Marcuse, um dos ícones da geração 60.

 A relação proposta por Jim Morrison exige um modo de percepção e sentimento a ser feita como cultura estética. E ele não mediu esforços para demonstrar isso em palco. Como ele mesmo disse - respondendo ao repórter que queria saber como as pessoas deveriam encontrar a liberdade -, “ofereço imagens, conjuro memórias de liberdade que ainda podem ser alcançadas”.

Considero essa proposição de Jim como de uma beleza e imaginação incríveis. Não houve ninguém dentro da musica – seja Rock, Pop – que tenha nos proposto algo tão belo.

 A política como a arte da convivência afetiva, mediada por Philia, conduzinda por Eros para o mistério de Agaphe, tal como imaginara Morrison, ela é dificil de acontecer no presente momento da história. È possível que nunca aconteça? Não temos respostas. Afinal, o controle é a forma mais duradoura que a civilização encontrou para convivência em sociedade. Não que seja o único meio, mas ela não abandonou essa forma desde o surgimento da civilização, lá nos primórdios, na Suméria.

 Uma das formas mais flagrante desse controle está no sexo. Todas as culturas têm dificuldades com o sexo. Apesar de vivermos em tempos mais a vontade com ele, não quer dizer que o problema não continue. Afinal, os escândalos e violências envolvendo o sexo cobrem todas as partes da terra. Seria necessário o desenvolvimento de uma sensibilidade estética muito apurada para revolver essa nódoa. Mas como?

Freud nos falou que a civilização exerce um certo controle sobre a sexualidade, mas é uma sexualidade como forma de satisfação imediata dos impulsos. Cada cultura exerce um controle sobre a sexualidade e sobre a agressividade. As pessoas não estão livres o tempo todo. Elas têm de abrir mão de seus impulsos para enquadra-se nas normas coletivas. Acontece, porém, que essa adequação tem um preço muito alto para o modelo de civilização que encontramos para esse, digamos, arranjo existencial. Ou seja, isso não se faz sem que o vazio e o mal-estar se propaguem em escala global (excetuando algumas comunidades primitivas, talvez). É por isso que os poetas, os sensíveis, os místicos inspirados têm nos revelado outras formas de viver, com-viver, que não é nada convencional, padronizadas; elas são tidas como ameaça a estabilidade, escândalo, imoral, etc. Mas Norman O.Brown, numa interpretação mais atual, considera a sexualidade como base da vida psíquica e da vida de relações, mas é a sexualidade entendida em sentido amplo, entendida como a ligação, como uma ligação aos outras e uma ligação a nós mesmos e não se restringe a uma sexualidade no sentido de sexo. Mas as dificuldades de estabelecer essas diferenças são enormes.

Jim tentou responder isso em muitas ocasiões, mas não fora entendido. Claro, propor uma mudança nesse nível, quando tudo já está ferreamente entranhado nas normas, nas reações das pessoas, fruto da intensa necessidade de controle de grupos, seja religioso, político, familiar. Todos trazem a essas normas introjetadas e respondem de diferentes modos, sempre em prejuízo da convivência saudável.

Isso leva tempo para ser assimilado.

Para todos os efeitos, disse Jim Morrison, “pense em nós como políticos eróticos”.
Quem sabe a humanidade passe a viver – algum dia - como queria Jim Morrison e outros – “eroticamente”.

"Amar é o que precisamos" - disse ele em seu livro Últimos Escritos.




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