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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Casamento e divórcio - o dilema pós-moderno





Recebi e-mails muito interessantes a respeito do artigo que escrevi sobre casamentos e divórcios ( O fim do casamento coincide com o fim do mundo encantado ).

Uma leitora (não vou postar o nome, acho que ela quer privacidade) achou que o que “determina um casamento são as índoles de cada um. Há aquele que só casa por sexo, porque a mulher é gostosa, mas tem quem case e não consiga sustentar a casa, a família, porque não tem caráter. Querem viver casados como se fossem solteiros. E tem mulheres que não se dão um pingo de respeito”, diz ela.

Não penso que a crise do casamento e o número cada vez maior de divórcio sejam por causa das Idiossincrasias de ambas as partes. Não é somente uma conduta específica que determina a observância dessa questão.

Primeiro, para não incorrermos em erro histórico, devemos observar uma grande mudança (grande não significa boa) em relação àquilo que se constituiu como família. Ela não é mais a mesma. Sofreu mudanças muito importantes.

Antes porem, observemos uma coisa. A família pré-moderna, por exemplo, foi denominada extensa pelos historiadores e cientistas sociais. A autoridade do pai era quase absoluta, a semelhança do rei, poder-se-ia dizer. E a mulher? Ela representava somente uma peça, um objeto dessa estrutura, corpo destinado a mera reprodução da prole.

Os séculos seguintes até chegarmos às portas do século XXI, para avançarmos rápido, mudanças significativas aconteceram. Mas as mudanças não trouxeram consigo a felicidade da vida conjugal. Elas se adaptaram muito bem a uma nova estrutura do capitalismo, herdeira do inicio do advento da propriedade privada, onde a estrutura familiar e conjugal, que é onde queremos chegar, parte integrante desse móbile, não mudou. Ela obedece, agora com outra faceta, ao critério de classe e de fatores ideológicos dessa mesma sociedade capitalista.

No entanto, estamos diante do homem pós-moderno, o que significa dizer: vazio. Ele não encontra a outra margem (Gruimarâes Rosa) de si mesmo, o que o leva a pobreza da vida como modo experiencial de construção da interioridade, além da pobreza das relações intersubjetivas. O encontro emocional não lhe proporciona a vivencia experiencial de uma afetividade significadora e transcendental porque pobre. Ele administra ilusões inconscientes e teme o real da outra margem, aquela que ele teme como necessária à travessia, que lhe devolveria, se pudesse ousar dessa “ação” (Goethe), a eterna companhia de Leda e do Cisne (Goethe), ou seja, o encontro da verdadeira vida amorosa, prenhe de significações múltiplas na experiência dos esponsais.

Como se encontra agora, o que assistimos é uma espécie de ritualização padrão das relações pós-modernas: vazia, afeitas a fugazes emoções, contidas e calculadas, marca da sociedade racional-estrutural, mas sem vida. O medo é o seu correlato perfeito. Uma couraça (Reich) intransponível por fora, um vazio sem margem por dentro.

O medo às significativas experiências de Eros e Ágaphe, a entrega e a total confiança no amor, o não sentir-se amado, tudo faz parte de um medo atroz que acometeu o homem pós-moderno.  Exige-se tudo, mas sem o amor por perto. Queremos amor, mas não queremos amar. “Estamos”, como disse um grande escritor sobre esse tempo que não ousa o abraço da outra parte, “num vale de lágrimas”.



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