A falsa perenidade com que alimentava
o ruído do progresso a qualquer custo, isso desde a revolução industrial, soou
num erro rotundo. As previsões de fazer da natureza o objeto de exploração
infinita levou a humanidade a entrar na sua pior crise. Gerou-se uma enorme
riqueza no mundo, mas ela não foi distribuída e nem respeitou-se os limites da
sua opulência dependente.
A incapacidade do capitalismo de
mitigar a pobreza no mundo pode significar uma total crise das finanças e da
forma como o próprio conjunto da sociedade está posto. Seguramente que o processo de redução da
desigualdade não pode passar sem o envolvimento dos empreendimentos do setor
privado.
Encolhidos pela estabilização do
crescimento e pelo envelhecimento da população, os mercados dos países ricos já
estão saturados. São palco de uma competição tão intensa, que, com frequencia,
torna-se predatória e ruinosa para todos os envolvidos. Já o potencial de
mercado dos países em desenvolvimento em geral é relegado pelas empresas, que tendem
a enxergar apenas seus “bolsões” de riqueza, disputados de maneira igualmente
intensa e, não raro, predatória.
A projeção populacional para 2025
prevê uma concentração de 85% das pessoas vivendo em países em desenvolvimento
( hoje não são cerca de 80%). Além disso, dos 7 bilhões de seres humanos que
vivem no planeta, cerca de 1,1 bilhão vive na condição de miserável. Atualmente,
2,4 bilhões são crianças e adolescentes, e vivem predominantemente nos países em
desenvolvimento (Almeida).
Desenvolvimento sustentável,
portanto, passa por uma tomada de consciência de todos os países desenvolvidos
e em desenvolvimento. Não haverá como equalizar essa situação sem que haja uma
mudança completa. Não sabemos como ela se dará, de que forma e quando, mas
sabemos que terá que mudar. Não haverá saída sem uma mudança total no mundo da
economia, que afeta tudo e a todos.
Helder Modesto - filósofo, escritor e professor