A ideia de “representação”
na política, desgastada e sem apresentar mais nenhuma alternativa para os
problemas em sociedade, claudica ante a força e a insistência dos novos ares,
mas encontra na mídia e em quase todos os partidos o velho discurso para
desvirtuar a realidade inarredável.
As manifestações
mostram o quanto os partidos políticos não conseguem mais traduzir a ideia de representação, tão deslocada do universo da política, mas que durou
bastante tempo.
Os partidos políticos
servem como propriedade privada das oligarquias. Cada região tem seus
controladores, seus grupos que se apoderam do partido para fins próprios.
Querer assumir essa posição de mera representação, lugar mais apropriado ao pensamento antidemocrático moderno, bem característico da direita. O papel da esquerda, por outro lado, significa não esquecer-se de sua origem, que é revelar o real que se ocultou na imobilidade das representações. Mas ela parece não se lembrar mais disso.
Querer assumir essa posição de mera representação, lugar mais apropriado ao pensamento antidemocrático moderno, bem característico da direita. O papel da esquerda, por outro lado, significa não esquecer-se de sua origem, que é revelar o real que se ocultou na imobilidade das representações. Mas ela parece não se lembrar mais disso.
Entretanto, a
realidade, naquilo que Wittgenstein simboliza na figura do pato-lebre,
relaciona-se com esse padrão estabelecido, mas que escorrega e se mostra a
despeito de todo esforço para o controle da realidade por meio das
“representações”. A realidade social, indo direto ao ponto, mesmo sob o véu
ideológico (no sentido de que fala Althusser), se mentem até que se abre uma
fissura e rasga o véu encoberto pela hegemonia das dominações.
“Representar
significa estar no lugar de, falar por e agir por”, enquanto os representados
mantêm-se dependentes, oprimidos, alienados, obedientes, encurralados,
esperando receber as migalhas dos seus representantes, ou seja, a
representação, se pegarmos o caso Brasil, é algo que agradaria muito a um Buke
e Benjamin Constant, para quem as "elites" é quem decidem os destinos
políticos dos seus representados. Ninguém mais. É ai que se aloja a dialética
do senhor e do servo, bem analisada por Hegel na Fenomenologia do Espírito.
Para os grupos
dominantes, com apoio de determinados setores da imprensa, com seus discursos de
pretensão democrática, ecoa a voz do senhor imperial e da casa grande. Sob essa
suposta limpidez da consciência senhorial internalizada, decreta-se a prisão de
outras consciências não reconhecidas, que amargam o sofrimento, os gritos
silenciosos da dor engastada na pobreza, na violência de todas as formas:
física, psíquica e simbólica, até que o estigma de Caim (Eugênio), que persegue
as consciências infelizes, avise: por onde andarem, a vida os acusará porque
violaram a sua suprema sacralidade.
Essa crise de
representação dos partidos políticos, portanto, pode muito bem significar o
início de uma nova forma de destravar os caminhos da democracia. É o momento em
que a real participação e embates entre a face instituída (as formas,
regulamentos, normas estabelecidas, engessadas) e os movimentos instituintes
(as forças que tensionam o instituído a produzem mudanças) encontra o seu
esgotamento e abre o lugar para o instituinte.