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sábado, 26 de setembro de 2009

A que preço nasce uma cidade - JIM MORRISON

A cidade engendra – geralmente física, mas inevitavelmente
psiquicamente – um circulo. Um jogo mortal tendo o sexo ao centro.
Guiar até o perímetro suburbano.
Descobrir aí zonas de sofisticado vicio e tédio,
de prostituição infantil. Mas é nesse sujo anel implacável
apertando as ruas do comercio diurno que fervilha a única multidão viva.
Cobaias doentes em pensões baratas, quartos reles, bares, casas de pensão,
Teatro de variedades e bordéis; arcadas moribundas que nunca morrem.
Ruas de cinema de sessão contínua.

Quanto sacrifício, e a que preço nasce uma cidade.


Jim Morrison (1943-1971)


A queda do homem – para usar uma metáfora antiga – está relacionada a um sistema de oposições que vai do plano ontológico ao plano sociológico: ser-parecer; desejo-emoção; pobre-rico.

Foi preciso a opacidade do mundo para o Ser desnaturado cair na perversão em relação a sua origem. “Ser desnaturado porque cindido da Natureza e socialmente dividido, o homem jamais recuperaria a indivisão da origem quando, silencioso e disperso, colhia os frutos da terra, aplacava as necessidades e divagava no murmúrio das paixões benevolentes. Quando os homens se reúnem já se separaram da Natureza e a sociedade, precária substituição, é incapaz de refazer a unidade indivisiva do originário. Buscando a origem perdida, o homem social apenas encontra substitutos para ela, mas porque a perda é perversão, perversões serão os substitutos encontrados e nascendo acorrentado aos grilhões do destino de tudo quanto advém depois da queda, o homem social é um homem sem esperança e sem redenção”.

Crescem as cidades em todo o mundo. Segundo a ONU, em 30 anos o mundo será predominantemente urbano.  Segundo ela, o fenômeno urbano deste século serão as megacidades. É notório a queda de convivência saudável – tanto social, econômico e psíquico – nos grandes inchaços das imensas megacidades espalhadas em todo o mundo. O homem  perderá a sua relação com a natureza para sempre. Respirará o ar gélido das frias cidades de concreto pelo resto de sua jornada semi-humana.

Para Colin Wilson “o nascimento das cidades trouxe inúmeras perdas par o homem, pois o homem não foi feito para as cidades. Como criatura agressiva e dotada de extraordinária energia, é-lhe difícil ajustar-se as suas limitações. À falta de desafios, rege com o tédio e uma tendência a tornar-se negligente e indisciplinado. O instinto sexual continua tão poderoso quanto antes, e tem de suportar o fardo cada vez mais pesado da dominação frustrada. O resultado é a hipersexualização e a perversão sexual”.

Seria preciso uma volta ao passado, para que pudéssemos reencontrar a antiga “alegria” e as festividades do espírito dos povos de antanho. Mas como afirma Theodoro Adorno, “não se trata de conservar o passado, mas de realizar suas esperanças”.

Como fazer com que o homem do século XXI, “a era do vazio” como diz o filósofo Gilles Lipovetsky, recobre identidade e subjetividade? Para a atual topologia social resta a depressão e a falta de sentido como herança de tempos pós-moderno.

Como afirma  Jim Morrison: “quanto sacrifício, e a que preço nasce uma cidade”.



Livros consultados:

MATOS, Olgaria. Uma arqueologia da desigualdade. São Paulo. MG Editores, 1978.

MODESTO, Helder. O Navio de Cristal. Uma Interpretação da Vida e das Obras Musical e Literária de Jim Morrison. São Paulo, 2009, Baraúna


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