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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Lula, o ódio e a fera


Lula, o ódio e a fera

Quem quiser conhecer mais um pouco a face feia do animal humano, esse ser em evolução - sei que há quem defenda que o processo de evolução já se consumou nesta espécie, eu acho que não - é só dar uma olhada nos irascíveis comentários que correm na internet, sites de jornais, blogs e colunas que tratam da saúde de Lula. Algo para a gente não esquecer - se é que essas pessoas querem lembrar-se  disso - ou seja, há uma fera que habita dentro de cada ser humano, rosnando dia e noite através dos noites escuras do seu inconsciente, desde quando deixou as árvores, habitou as cavernas, mas que ainda não conquistou a luz da razão iluminada, como queriam os Iluministas. Freud desconfiava que o homem, habitado por duas pulsões em luta constante, não conseguiria suplantar a pulsão destrutiva, Thanatos, e que continuaria a travar a batalha em uma guerra psiquica que nunca teria fim. Jung também, mas esse, ao contrario de Freud, afirmava que o caminho era longo e solitário, até que ele reconhecesse, não a luz, mas as suas sombras terríveis. Era o passo para domar a fera que mora dentro de sua própria casa (Freud). Começaria ai uma jornada ruma a humanização da sua condição, que necessita de mediações, da cultura, da arte, dos sonhos, da literatura, da música, da filosofia, da mística, dos mitos, enfim, de tudo aquilo que nos faz humanos, portadores de qualidades singulares. Mas a ausência dessas mediações  nos devolve às feras, ao nosso passado sombrio, sempre emergindo por meio de arquétipos sombrios de nossa ancestralidade.

O fenômeno, com o disfarce politico, assemelha-se as histerias de grupos, que Jung afirmava que era o terreno propicio para o nascimento do Fascismo, do Nazismo em tempos bem próximos. Percebe-se, pois,  que os dois corifeus da psicanálise nos ajudam a entender o quanto estamos em plena caverna. Aliás, das cavernas nós já saímos, dirá um apressado morador das luzentes cidades grandes de qualquer lugar do mundo, só não sabem que é somente a vestimenta que disfarça a pele do animal. A fera não dorme por baixo da indumentária. Platão afirmava que todos habitamos a caverna. Somente “a vaidade desse macaco” afirma Nietzsche, quer contrariar a sua própria historia.

Precisamos de uma educação - não a que o modelo regido pelo mercado quer impor – que nos leve a pensar a vida, o dever ser, enfim, a cultura (arte e pensamento). Isso nos fará atravessar esse longínquo caminho a percorrer na senda do saber, até que consigamos atingir o centro de nós mesmos, o Self. 

Helder Modesto - filósofo, escritor e professor

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