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terça-feira, 15 de julho de 2008

O Sentido da Arte

A força e o mistério da existência impelem-nos a procurarmos desvendar o sentido da própria vida. Uma das formas que o homem encontrou para expressar essa angústia – desde os tempos das cavernas, pintando sobre as suas paredes – é a arte.

Como uma matéria inconsútil, “a arte se alimenta de um sentido bruto que escapa a todos os modelos de pensamento pré-estabelecidos, por isso, ela é uma espécie de ciência secreta que manifesta o enigma do mundo” (Graciela Deri, 2008).

Ida Zami, artista plástica com a sensibilidade rara, dona de uma autenticidade dificilmente igualável, sua arte reflete o périplo do ciclo da existência que escorre por entre o desejo de itinerários desconhecidos e os ecos do não vivido. Angústia atada ao visível látego da dor e do vazio que se prende ao ser. Mas que não abandona essa dor inconsútil que dilacera silenciosamente, cada um, os traços que, em nossa própria subjetividade, tecem a certeza que a vida é um sonho dentro de um outro sonho, e que a realidade é nua e crua.
Sua arte mostra os descaminhos que se avolumam ao longo do percurso do ser, seta exilada para o lado do não-ser. Nenhum êxodo foi programado para este desterro, uma vez que o expatriado só tem o solo da sua própria existência, pois só pode medir os ângulos do próprio rosto.


O corpo pode ser vestido de muitas maneiras, embora esteja sempre nu, vestido única e tão somente com as cores inquebrantáveis da própria solidão do existir, pois existir é ter que beber da própria garganta da sede, sem que se possa saciar-se completamente. A menos que seja um deus.
Para que serve a arte, então, caro leitor, senão para nos ensinar que não estamos vestidos, que o vestir-se pede que o traje seja feito do mais caro linho, de onde não se pode maquiar, simular, disfarçar a aparência pelas cores da indumentária, pois ela tem que ser forjada pelo lento tear da lide, numa espera agônica de Penélope, anos após anos, até que os mares do porvir vos faça um ser completamente livre.
Ida Zami é uma artista em busca de transcendência, de beleza e profundidade, sua arte devolve-nos o olor dessa antiga carpintaria, algo que o nosso tempo de pragmatismo e de imediatismo necessita para tornar a humanidade possível.
Texto que publiquei no Jornal Chega São Paulo

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