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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Womam in the Windows - visões do poeta Jim Morrison de um futuro sombrio



Há vários consensos na comunidade cientifica de que o universo e todos os seres se originaram de um processo evolutivo, iniciado a cerca de 15 bilhões de anos a partir do vácuo quântico e da primeira singularidade – o Big Bang – de infinita quantidade de calor. Depois, o universo começou a esfriar e a se expandir, fazendo aparecer os vários campos energéticos, topquarks, átomos, galáxias estrelas e planetas como o nosso. Há aproximadamente 3,8 bilhões de anos irromperam, nos prístinos pântanos da terra, as primeiras formas primitivas de vida. Todas se complexificam nas inúmeras formas de vidas: plantas, répteis, pássaros e mamíferos. Um desses da cadeia dos mamíferos – os humanos – dotou-se nos últimos 4 e/ou 5 bilhões de anos, de consciência e subjetividade.

Todo o processo global foi se configurando paulatinamente, sem nenhuma pressa. A consciência Cósmica gesta sua complexidade em sua misteriosa calma. E o processo evolutivo precisou de um longo tempo para permitir a vida e a consciência surgirem.

Avançando os ponteiros desse relógio cósmico – metáfora que serve para nos localizarmos - A cultura material começa e tem um início prático, como esta era uma produção dos instrumentos primitivos. Os antigos sempre tiveram um senso de cuidado e preservação pelo ambiente em que ocupavam, deram-lhe diferentes nomes à terra. Para uma cultura ela era Gaia, outra a chama de Isis, uma outra a Chamava de Pacha Mama e por ai vai.

Mas um dia o homem perderia o contato com essa reverencia. O progresso – termo já bastante gasto – se fez rapidamente. Se o homem aprendera a contemplar a natureza, a beleza de cada estação, de suas mudanças e ciclos, o progresso técnico cientifico muda essa maneira de ser e de se ver no espelho da Mãe Terra. O homem se vê agora como homo faber, que maneja a técnica, que domina a natureza, que domina a sua riqueza, que domina os outros seres vivos, que passa a dominar os da sua própria espécie, subjugando e explorando. O homem decresce diante do que ele via. Ela gora só vê a cor do dinheiro. Tudo é passível de negocio na mercantilização de todas as coisas, inclusive a vida. O homem se torna objeto.

Os anos 60, anos frutíferos e de critica a essa visão técnica/cientifica/materialista propõem outra forma de vida, não mais essa que oprime, que destrói, que pilha, que barganha, que inibe a liberdade, que quer transformar o sujeito em objeto. Tudo é contestado.

Nesse turbilhão todo, Jim Morrison compõe o belíssimo poema “Womam in the Windows”.

Esse poema contém previsões corretas sobre o estágio do mundo atual - incluindo a linha, "homem, você está mal, saia do meu jardim." Jim conseguiu captar o que seria um dos principais problemas do nosso inicio de século: a destruição da natureza.

Como afirma muito bem Dan Morrell, existe uma clara influencia de Walt Whitman aqui.Seguindo outro épico dos Doors, when the Music's Over tem um verso que traduz a preocupação de Jim Morrison com a destruição da natureza. Um verso - um lamento abertamente ecológico:

"O que eles fizeram com a Terra / O que eles fizeram para a nossa irmã gentil? / devastado e saqueando e roubando dela e pilhando / cravaram-na com facas ao lado da aurora/ e amarram-na com cercas / E arrastaram-na para baixo".

O lamento do poeta é o lamento da dor da terra sangrando. É o lamento pela destruição da Mãe natureza, gentil, fértil, ofertando sua docilidade e abundancia aos homens. E, ele, o que faz? Devasta, pilha, saqueia, destrói, vende e acumula o que é de todos.

É a imagem da destruição, da morte que acompanha a sociedade industrial, individualista e ávida pelo lucro e satisfações pessoais. “A Ciência – segundo José Lutzemberg – deve voltar a ser o que era para os antigos Gregos – percepção de harmonia, gozo estético, deleite espiritual exercício intelectual”.

***

O texto abaixo Ilustra exatamente essa idéia que Jim Morrison traduz no poema Woman in the windows. Trata-se da famosa carta do Chefe Seattle, escrita por volta de 1852 e endereçada ao presidente dos Estados Unidos, que na época havia feito um inquérito sobre a aquisição das terras indígenas para serem ocupadas pelos imigrantes que chegavam ao país. Texto integral retirado do livro- O Poder do Mito - de Joseph Campbell, autor que Jim Morrison estudou cuidadosamente.

“O Presidente, em Washington, informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é possível comprar ou vender o céu, ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão comprá-los?

Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra, e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, pertencem todos à mesma família.

Os rios são nossos irmãos. Eles saciam a nossa sede, conduzem nossas canoas e alimentam nossos filhos. Assim, é preciso dedicar aos rios a mesma bondade que se dedicaria a um irmão. O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos. O homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que quer que ele faça à rede, fará a si mesmo.

O destino de vocês é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos forem todos sacrificados? Os cavalos selvagens, todos domados? O que acontecerá quando os cantos secretos da floresta forem ocupados pelo odor de muitos homens e a vista dos montes floridos for bloqueada pelos fios que falam? Onde estarão as matas? Sumiram! Onde estará a águia? Desapareceu! E o que será dizer adeus ao pônei arisco e à caça? Será o fim da vida e o início da sobrevivência.

Amamos esta terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe. Assim, se lhes vendermos nossa terra, amem-na como a temos amado. Cuidem dela como temos cuidado. Gravem em suas mentes a memória da terra tal como estiver quando a receberem. Preservem a terra para todas as crianças e amem-na, como Deus nos ama a todos.

Assim como somos parte da terra, vocês também são parte da terra. Esta terra é preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver à parte. Afinal, somos irmãos.”



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