Há
vários consensos na comunidade cientifica de que o universo e todos os seres se
originaram de um processo evolutivo, iniciado a cerca de 15 bilhões de anos a
partir do vácuo quântico e da primeira singularidade – o Big Bang – de infinita
quantidade de calor. Depois, o universo começou a esfriar e a se expandir,
fazendo aparecer os vários campos energéticos, topquarks, átomos, galáxias
estrelas e planetas como o nosso. Há aproximadamente 3,8 bilhões de anos
irromperam, nos prístinos pântanos da terra, as primeiras formas primitivas de
vida. Todas se complexificam nas inúmeras formas de vidas: plantas, répteis,
pássaros e mamíferos. Um desses da cadeia dos mamíferos – os humanos – dotou-se
nos últimos 4 e/ou 5 bilhões de anos, de consciência e subjetividade.
Todo
o processo global foi se configurando paulatinamente, sem nenhuma pressa. A
consciência Cósmica gesta sua complexidade em sua misteriosa calma. E o
processo evolutivo precisou de um longo tempo para permitir a vida e a
consciência surgirem.
Avançando
os ponteiros desse relógio cósmico – metáfora que serve para nos localizarmos -
A cultura material começa e tem um início prático, como esta era uma produção
dos instrumentos primitivos. Os antigos sempre tiveram um senso de cuidado e
preservação pelo ambiente em que ocupavam, deram-lhe diferentes nomes à terra.
Para uma cultura ela era Gaia, outra a chama de Isis, uma outra a Chamava de
Pacha Mama e por ai vai.
Mas
um dia o homem perderia o contato com essa reverencia. O progresso – termo já
bastante gasto – se fez rapidamente. Se o homem aprendera a contemplar a
natureza, a beleza de cada estação, de suas mudanças e ciclos, o progresso
técnico cientifico muda essa maneira de ser e de se ver no espelho da Mãe
Terra. O homem se vê agora como homo faber, que maneja a técnica, que domina a
natureza, que domina a sua riqueza, que domina os outros seres vivos, que passa
a dominar os da sua própria espécie, subjugando e explorando. O homem decresce
diante do que ele via. Ela gora só vê a cor do dinheiro. Tudo é passível de
negocio na mercantilização de todas as coisas, inclusive a vida. O homem se
torna objeto.
Os
anos 60, anos frutíferos e de critica a essa visão
técnica/cientifica/materialista propõem outra forma de vida, não mais essa que
oprime, que destrói, que pilha, que barganha, que inibe a liberdade, que quer
transformar o sujeito em objeto. Tudo é contestado.
Nesse
turbilhão todo, Jim Morrison compõe o belíssimo poema “Womam in the Windows”.
Esse
poema contém previsões corretas sobre o estágio do mundo atual - incluindo a
linha, "homem, você está mal, saia do meu jardim." Jim conseguiu
captar o que seria um dos principais problemas do nosso inicio de século: a
destruição da natureza.
Como
afirma muito bem Dan Morrell, existe uma clara influencia de Walt Whitman
aqui.Seguindo outro épico dos Doors, when the Music's Over tem um verso que
traduz a preocupação de Jim Morrison com a destruição da natureza. Um verso -
um lamento abertamente ecológico:
"O
que eles fizeram com a Terra / O que eles fizeram para a nossa irmã gentil? /
devastado e saqueando e roubando dela e pilhando / cravaram-na com facas ao
lado da aurora/ e amarram-na com cercas / E arrastaram-na para baixo".
O
lamento do poeta é o lamento da dor da terra sangrando. É o lamento pela
destruição da Mãe natureza, gentil, fértil, ofertando sua docilidade e
abundancia aos homens. E, ele, o que faz? Devasta, pilha, saqueia, destrói,
vende e acumula o que é de todos.
É
a imagem da destruição, da morte que acompanha a sociedade industrial,
individualista e ávida pelo lucro e satisfações pessoais. “A Ciência – segundo
José Lutzemberg – deve voltar a ser o que era para os antigos Gregos –
percepção de harmonia, gozo estético, deleite espiritual exercício
intelectual”.
***
O
texto abaixo Ilustra exatamente essa idéia que Jim Morrison traduz no poema
Woman in the windows. Trata-se da famosa carta do Chefe Seattle, escrita por
volta de 1852 e endereçada ao presidente dos Estados Unidos, que na época havia
feito um inquérito sobre a aquisição das terras indígenas para serem ocupadas
pelos imigrantes que chegavam ao país. Texto integral retirado do livro- O
Poder do Mito - de Joseph Campbell, autor que Jim Morrison estudou
cuidadosamente.
“O
Presidente, em Washington, informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é
possível comprar ou vender o céu, ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não
possuímos o frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão
comprá-los?
Conhecemos
a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas
veias. Somos parte da terra, e ela é parte de nós. As flores perfumadas são
nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo das
montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem,
pertencem todos à mesma família.
Os
rios são nossos irmãos. Eles saciam a nossa sede, conduzem nossas canoas e
alimentam nossos filhos. Assim, é preciso dedicar aos rios a mesma bondade que
se dedicaria a um irmão. O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o
homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos
une a todos. O homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que
quer que ele faça à rede, fará a si mesmo.
O
destino de vocês é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos
forem todos sacrificados? Os cavalos selvagens, todos domados? O que acontecerá
quando os cantos secretos da floresta forem ocupados pelo odor de muitos homens
e a vista dos montes floridos for bloqueada pelos fios que falam? Onde estarão
as matas? Sumiram! Onde estará a águia? Desapareceu! E o que será dizer adeus
ao pônei arisco e à caça? Será o fim da vida e o início da sobrevivência.
Amamos
esta terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe. Assim, se
lhes vendermos nossa terra, amem-na como a temos amado. Cuidem dela como temos
cuidado. Gravem em suas mentes a memória da terra tal como estiver quando a
receberem. Preservem a terra para todas as crianças e amem-na, como Deus nos
ama a todos.
Assim
como somos parte da terra, vocês também são parte da terra. Esta terra é
preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe
apenas um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver à parte. Afinal,
somos irmãos.”