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sexta-feira, 27 de julho de 2007

O centro velho de São Paulo

Desço na Av. Brigadeiro, vou andando a pé. Av. Barulhenta e movimentada. Gente com pressa, quase correndo. Ninguém sabe porque corre. Mendigos também são partes do cenário geográfico desse corre-corre, dessa indiferença. Descendo a ladeira. Final da Av. Atravessar a ponte. A ponte é uma travessia simbólica, mas duvido que muitos vejam esse simbolismo por entre seus pensamentos nublados pelo imediatismo. Algo os atrai do outro lado, mas é uma travessia mecânica, uma travessia que os levará ao quartel dos seus desejos: vitrines, lojas e o grande mercado do consumo. Uma realização instantânea. Logo ela desaparecerá para um outro desejo. O martírio de Sísifo. Uma caminhada a lugar algum. Para o vazio. Tudo desce ladeira abaixo. Chega-se a Praça da Sé. Ao lado, ruas estreitas, sujas, esquecidas, mas que guarda tesouros. Sebos e mais sebos perfilam por essas ruas estreitas. Prédios antigos, mal-conservados, uma típica paisagem da São Paulo velha. Uma nostalgia da Paulicéia. Então, adentro um sebo. Desço um porão. Vasculho. Ah! um silencio lá em baixo...Só as palavras que vêm de tantas e tantas linhas desses livros. Ali está Dostoievsky, um dialogo pesado sobre o drama existencial humano. Ao lado, uma imensa prateleira de filosofia. Os gregos filosofam, dialogam. O dialogo como necessário para construção de sentidos. Hora de ver mais coisas. Subir. Opa! Rumores de barulho. Carros e mais carros desfilam pelas grandes artérias da cidade viva.Um outro sebo. Mais outro e mais outro....são muitos. Entro em todos. A mochila já está pesada. Hora de comer algo. Vamos lá. Mc Donald’s? Nem pensar. Indigesto. Um almoço é bem melhor. Selv-service? Perfeito. Lotado. Pega o que quiser. Paga-se pelo peso. Ótimo.Ei, você por aqui, meu veio? Blza? Um amigo. Estão em bando. Apresentações. Cumprimento a todos. A conversa é instigante: sempre falando de arte, literatura, filosofia, e muitos projetos. Livros que está lendo, baladas, etc. Vê se me liga. Abraço.É assim, sempre é assim: as coisas em comum acontecem por essas ruas de uma grande metrópole. Hora de ir para casa. a mochila está pesando.

Um comentário:

  1. É quase um cenário dostoievskyano, como bem disse, "um dialogo pesado sobre o drama existencial humano." Uma psicologia da cidade, onde os porões do inconsciente começam a se revelar ao homem esse outro homem, esse outro lugar, o não lugar, mas o lugar onde habitam todas as coisas. E é essa fome por encontrar raros tesouros que alimentam o espírito para o banquete de novos encontros. Seja com Dostoievsky, Jorge Luis Borges ou companheiros de idéias comuns.
    Ah, Como é vivo esse mesmo percurso em minha memória. Crime e Castigo, encontrei num desses tantos sebos que descreve, em 1995, partindo da Estação Brigadeiro, numa longa caminhada em busca do cheiro... dos livros.

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