ΚΑΤΑ ΤΟΝ ΔΑΙΜΟΝΑ ΕΑΥΤΟΥ significa “de acordo com o
seu próprio daimon”, e/ou "fiel a seu espírito" Daimona é uma palavra
bem próxima do sentido de "daimon". Dainon é uma palavra grega e não
trem tradução. Para os gregos, porém, ela é uma vontade interior. Na Grécia
antiga significava Théo (Deus)(vide Sócrates), ou o ‘genius” dentro do próprio
homem(do grego "génô"), tal como fala Heráclito. “Genius” é o poder
da alma. Enfim, daimon é o demônio interior de cada um de nós. Entretanto, esse
demônio não tem nada a ver com a denominação Cristã, principalmente, no que se
refere ao Neopentecoltalismo e suas sessões de descarrego. Não é exorcismo.
Como se pode apreender do texto, Jim está feliz em
ler isso em seu túmulo em Pére Lachaise.
Seguir a voz do próprio “daimon” ,ou "ser fiel
a seu espírito" têm muitas implicações. Uma delas é o medo de seguir os
seus próprios impulsos, isto é, poucos têm coragem para se despir das amarras
que a sociedade os veste e passe a seguir o seu “daimon interior”. O primeiro
problema está em reconhecer que cada um é portador se uma subjetividade, de uma
personalidade própria. O segundo seria em desfazer-se dos estereótipos, dos
modelos de comportamentos padronizados, das crenças e cultos impostos – a
maioria por medo, consciência pesada, sentimento de culpa, complicações,
inibições, que é o que Freud denominou de super-ego. Esse super-ego é um
construto histórico e social. Todas as sociedades o têm. Jung expressa esse
ponto de vista de que estamos sob pressão de dois fatores: a do código coletivo
ético, que varia de nação para nação e, geralmente, dita nosso comportamento
ético, e a de um impulso moral pessoal, que é individual e não coincide com o
código coletivo ( que em nossa sociedade se combina com a tradição religiosa
patriarcal judaico-cristã).
Podemos perceber, então, que existem duas coisas
que ditam o comportamento humano: o super-ego freudiano e a reação moral
pessoal do individuo. Essa ultima, que às vezes coincide com o código coletivo
é conhecido como a voz de Deus: os romanos a chamariam de “genius”, Sócrates
diria “meu daimon” e os índios Naskapi, da Península do Labrador, a chamariam
de “Mistap’eo”, o grande homem que vive no coração de cada um. Em outras
palavras, é uma figura que poderíamos chamar de arquétipo do Self, o centro
Divino da psique que em outras culturas naturalmente adquire nomes e conotações
diferentes. Se esse fenômeno surge dentro de nós, geralmente temos um estranho
sentimento de certeza com relação ao que fazer e o que precisamos fazer, não
importando o que o código coletivo possa dizer a respeito. Em geral a voz não
somente diz o que fazer mais inclusive cria uma convicção pessoal pela qual o
individuo poderá até morrer, como aconteceu com Sócrates e a vários mártires
cristãos.
Quem é capaz de ser "fiel a seu espírito"
sem se dobrar ante o peso do mundo? Quem é capaz de "retidão" de
espírito e não soçobrar ante a engrenagem da sociedade?
Jim compreendia perfeitamente a reflexão do seu
mestre Nietzsche, que afirmava: " a retidão, supondo-se que seja nossa
virtude, da qual não podemos nos livrar, nós, espíritos livres, e então
queremos trabalhar em torno dela com toda a nossa malignidade, com todo nosso
amor, sem deixar de nos aperfeiçoar nesta nossa virtude, a única que nos
restou".
Seguir a retidão, ser "fiel a seu
espírito" é o contrário daqueles que têm a vontade fraca, que servem e são
parte de rebanhos, que seguem ao acaso. Não, isso não acontece para aqueles que
têm retidão, que são "fieis ao seu espírito". Para os fracos, porém,
diz Rilke:
"Ao capricho dos acasos ele prossegue,
vascilante,
pois há uma tendo apregoando ruidosa para cada
anseio".
Ótimo texto Helder. Adorei!
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